O jesuíta Teilhard de Chardin, famoso tanto na área da filosofia quanto da paleontologia, tentou unir ciência e fé numa obra que provocou grandes controvérsias e o colocou à frente de seu tempo.
Pierre Teilhard de Chardin nasceu em Sarcenat, França, em 1º de maio de 1881. Filho de um aristocrata rural interessado pela geologia, dedicou-se desde a juventude ao estudo dessa matéria, que não interrompeu nem mesmo quando suas inquietações espirituais o levaram a ingressar na Companhia de Jesus, em 1899. Depois do noviciado, ordenou-se em 1911, mas preferiu fazer a primeira guerra como padioleiro a servir do capelão. Por bravura na frente de batalha, recebeu a Legião de Honra. Posteriormente lecionou no Instituto Católico de Paris. Em 1923, realizou a primeira de suas numerosas expedições científicas à China, onde residiu durante a segunda guerra mundial. Participou do descobrimento do Sinanthropus pekinensis, o homem de Pequim, e ainda incorporou importantes observações ao conhecimento da geologia e dos fósseis do pleistoceno na Ásia.
Os estudos científicos conduziram Teilhard de Chardin a uma profunda meditação sobre o problema da evolução, origem de sua obra mais importante, Le Phénomène humain (O fenômeno humano), concluída em 1940, mas só publicada postumamente, em 1955. Em seu pensamento, a evolução evidente do universo material, que parece esmagar o homem e sua consciência, visa, na realidade, a realizar a passagem da matéria ao espírito, do menos consciente ao mais consciente.
O homem é o centro e a razão dessa evolução: sua alma o liga a esse universo, que ela domina, a seus semelhantes e a seu fim último, que é Deus. Ciência e religião, longe de se contradizerem, conduzem ambas à perfeição intelectual. As implicações morais e religiosas desse sistema foram desenvolvidas numa série de obras como Le Milieu divin (1958; O meio divino) e L"Avenir de L"homme (1959; O futuro do homem).
Várias das teses de Teilhard de Chardin foram recebidas com reservas tanto pela Companhia de Jesus quanto pela Santa Sé. O Santo Ofício chegou mesmo a divulgar um monitum, ou advertência simples, para a aceitação das idéias do religioso sem maior exame. Teilhard de Chardin regressou à França em 1946, mas ante a impossibilidade de publicar seus textos -- que circularam em exemplares mimeografados e só foram editados após sua morte -- transferiu-se para os Estados Unidos. Ingressou então na Fundação Wenner-Gren, de Nova York, que patrocinou, nos últimos anos de sua vida, duas expedições científicas ao continente africano. Teilhard de Chardin morreu em Nova York, em 10 de abril de 1955.